Esta é uma tradução livre do artigo “The Itch Of Curiosity” originalmente publicado na WIRED.
Curiosidade é um desses traços de personalidade que recebe pouca atenção científica. Me surpreende como é um hábito mental tão importante – quantas pessoas bem sucedidas são desinteressadas? – mas também extremamente impreciso.
“Eu não tenho um talento especial, sou apenas apaixonadamente curioso”, declarou certa vez Albert Einstein.
O que significa ser interessado em um mar de ideias irrelevantes? Como podemos medir interesse?
Enquanto analisamos inteligência pura – cientistas estão começando a descobrir a anatomia do QI – nossa curiosidade sobre o mundo permanece quase toda um mistério.
No entanto, temos tido progresso. Nossa curiosidade sobre o cérebro está nos levando a entender a própria curiosidade. Uma das pesquisas recentes mais interessantes vem do laboratório de Colin Camerer na Caltech, e foi supervisionada por Min Jeong Kang.
O experimento em si foi bem direto: dezenove estudantes da Caltech receberam 40 perguntas triviais enquanto estavam em um scanner cerebral.
Depois de lerem cada questão, os estudantes analisados precisavam adivinhar a resposta em silêncio, e para indicarem seu nível de curiosidade sobre a resposta certa. Então, eles viam a pergunta novamente, seguida pela resposta correta.
Os resultados do experimento em fMRI são intrigantes, ainda que limitados, e oferecem uma luz no processo neural por trás da criatividade.
A primeira coisa que os cientistas descobriram é que a curiosidade obedece uma curva invertida no formato de U.
Ou seja, somos mais curiosos quando sabemos um pouco sobre o assunto (nossa curiosidade foi atiçada) mas não muito (ainda não sabemos a resposta).
Isso suporta a Teoria da Lacuna da Informação e Curiosidade, desenvolvida pela primeira vez por George Loewenstein, do Carnegie-Mellon, no início dos anos 90.
De acordo com Loewenstein, curiosidade é bem simples, ela existe quando sentimos que há uma lacuna “entre o que sabemos e o que queremos saber”.
Essa lacuna tem consequências emocionais: parece com uma coceira mental, uma picada de mosquito no cérebro. Nós buscamos novos conhecimentos porque essa é a maneira de aliviar essa “coceira”.
Os dados da fMRI complementam esse modelo da lacuna da informação e curiosidade. Pelo que parece, momentos depois da questão ser feita pela primeira vez, os estudantes analisados mostraram substancial aumento na atividade cerebral em três áreas distintas: o lobo esquerdo, o córtex pré-frontal e o giro para-hipocampo.
A descoberta mais interessante é a ativação do lobo cerebral, que parece ficar numa interseção entre novo conhecimento e emoções positivas.
Por exemplo, o lobo parece ser ativado por diferentes tipos de aprendizado que envolvem feedback, enquanto também são extremamente relacionados ao ciclo de recompensa de dopamina.
A lição disso é que nosso desejo por informação abstrata – essa é a causa da curiosidade – começa como uma dependência dopamínica, gravada no mesmo caminho primal que também responde à sexo, drogas e rock and roll.
Isso me lembra algo que Read Montague, um neurocientista da Baylor College of Medicine, contou alguns anos trás:
“O cara que está numa greve de fome por conta de algum motivo político ainda está se apoiando em seus neurônios de dopamina do mesencéfalo, assim como um macaco recebendo um doce. O cérebro dele simplesmente valoriza mais a causa do que o almoço… você não precisa ir muito além antes disso voltar para o seu lombo.”
A elegância desse sistema é que ele alimenta sozinho uma habilidade humana única em um processo mental. Por essa curiosidade ser essencialmente uma emoção, uma coceira inexplicável nos dizendo para continuar a busca por uma resposta, ela pode usar toda a engenharia evolutiva que está em nosso mesencéfalo dopamínico. (A seleção natural já inventou um sistema motivacional efetivo.)
Quando Einstein estava curioso sobre a curvatura do espaço-tempo, ele não estava só se apoiando em um circuito novo em seu cérebro. Ao invés disso, ele estava usando o mesmo sistema neural básico de um rato em um labirinto, procurando por um pouco de comida.
Eu vou deixar os cientistas terem a última palavra:
Entender a base neural da curiosidade tem implicações substantivas e importantes. Note que enquanto o processo de busca por informação é geralmente adaptativo evolutivamente, novas tecnologias aumentam a quantidade de informação disponível, e isso potencializa os efeitos da curiosidade.
Entender a curiosidade também é importante para selecionar e motivar trabalhadores que juntam informação (como cientistas, detetives e jornalistas).
A produção de notícias engajantes, propaganda e entretenimento também é, até certo ponto, uma enorme tentativa de criar curiosidade. O fato de que a curiosidade aumenta com o desconhecimento (até um certo valor), sugere que uma pequena quantidade de informação pode criar um pico de curiosidade e aumentar a fome por conhecimento, assim como estímulos visuais e olfativos podem aumentar a fome por comida, o que sugere maneiras de educadores acenderem a vela do aprendizado.