O Legado Africano e a Formação da Identidade Quilombola A herança africana se manifesta não apenas nos ingredientes, como o dendê, o milho e a mandioca, mas também em técnicas culinárias que foram adaptadas às condições locais, criando pratos únicos que são verdadeiros símbolos de resistência cultural.
O cultivo de mandioca, milho, feijão e arroz compõe a base alimentar dessas comunidades quilombolas desde o período colonial. A partir desta cultura alimentar, estruturaram-se modos de fazer o plantio, de colheita e de troca que se tornaram tradicionais dentro da comunidade.
Os quilombolas cultivavam e processavam alimentos, pescavam e criavam animais e, em todas essas práticas, que variavam de território a território, observa-se a presença marcante de alimentos como milho, mandioca, feijão, batata, arroz, banana, cana-de-açúcar, melancia e diversas outras plantas e frutas nativas.
São as comidas que os nossos antepassados usavam para sua própria sobrevivência, como arroz com frango caipira, farofa de carne seca, arroz com palmito, feijão com frango, farofa de carne seca com feijão, arroz com carne de porco, toucinho com feijão, café com caldo de cana, cará, tabacui, paçoca de cará com torresmo, ...
Entre os quilombolas há um grande número de cantores e compositores, que relatam em suas músicas a vida, a luta e a esperança de seu povo. As chamadas festas tradicionais são resultado de muitas influências: negra, indígena e católica. Assim, por exemplo, temos o Aiuê de São Benedito na Comunidade Jauari.
Os fundadores quilombolas trouxeram com eles as sementes e o conhecimento de como cultivar essas lavouras. Eles plantaram arroz vermelho da África Ocidental e sementes de cana-de-açúcar e milho que trouxeram das fazendas de monocultura.
Qual o tipo de agricultura para consumo próprio praticado pelos quilombolas?
Ao longo de sua existência, para sobreviver no Vale, os quilombolas praticaram uma agricultura itinerante, herdada dos povos indígenas que habitaram a mesma região, chamada por eles de roça de coivara e que tem outros nomes em outras regiões tropicais.
Como a culinária pode ser importante para a cultura de um povo?
É uma forma de permitir que as gerações futuras tenham acesso à ancestralidade e a herança cultural da nação. Hoje em dia fala-se muito de patrimônio gastronômicos, da sua importância na preservação da cultura local, e das várias formas de agregar valor aos produtos da comunidade.
Como é o cultivo dos alimentos na comunidade quilombola?
A agricultura de pequena escala realizada pelos quilombolas implica no manejo de alta diversidade inter e intraespecífica. Durante o ano agrícola de 2019, foram cultivadas 42 espécies em roças e hortas, compreendendo 83 variedades.
Nas comunidades quilombolas, hoje, existem três religiões predominantes: o catolicismo, o candomblé e o evangelismo. Algumas possuem apenas uma religião, porém, o mais comum é que, numa mesma comunidade, predominem duas ou três religiões diferentes.
Atualmente, os quilombolas vivem em comunidades que, embora mantêm tradições ancestrais, enfrentam desafios contemporâneos. Muitas dessas comunidades estão em áreas rurais, onde a agricultura de subsistência e o extrativismo são as principais atividades econômicas.
Ainda hoje existem comunidades quilombolas que resistem à urbanização e tentam manter seu modo de vida simples e em contanto com a natureza, vivendo, porém, muitas vezes em condições precárias devido à falta de recursos naturais e à difícil integração à vida urbana e não tribal.
O produto mais comum que era produzido pelos quilombolas era a farinha de mandioca, mas as roças dos quilombos também eram formadas por milho, feijão, batata-doce, abóbora, cana-de-açúcar, entre outros cultivares. Frutos e raízes também serviam para a alimentação dos quilombolas, assim como a caça e a pesca.
Os trajes das cirandeiras, como as saias rodadas, também são significativas da cultura no quilombo. Vestido de saia rodada, colorida, com babados em estilo Andaluz, colares e brincos dourados e maquiagem é como as mulheres ciganas, as calins, gostam de se vestir, explica a artesã Cristiane Cavalcante Viana.
Há pesquisadores que consideram os quilombos como verdadeiros patrimônios gastronômicos e realmente eles o são. Curau de milho verde, café de milho, paçoca de amendoim, biju e bolo de mandioca, bolo de mandioca com coco, paçoca de carne-seca, caponata de umbigo de banana, bolinho de chuva de banana, farofa de taioba…
A formação dos quilombos, comunidades autônomas estabelecidas por escravos fugidos, foi um ato de resistência contra o sistema escravocrata. Nessas comunidades, a culinária se apresentava como um elemento de união, identidade e sobrevivência.
Eles comem carne, frutas, tubérculos e mel, uma iguaria muito apreciada. Homens e mulheres desempenham seus deveres em grupos criando vínculos sociais fortes.
Não é de estranhar que seja o local de origem de alimentos exportados e conhecidos como o café, as ervilhas, o melão, a oliveira, as sementes de sésamo e a hortelã, entre muitos outros. Existem ainda outros alimentos que nos podem soar a iguarias exóticas, como o quiabo, o maboque ou a múcua, fruto da árvore baobab.
Nessa lista estão arroz colorido, espetos, linguiças de fazendas, carnes exóticas e de cortes especiais, além das chamadas quitandas, como tortas, pães e doces. Além da carne, o milho, o arroz e a dobradinha também estão presentes na mesa dos sul-africanos.
As comunidades quilombolas, uma herança dos refúgios dos negros escravizados que começaram a se formar no século 16, vivem, praticamente, da agricultura familiar.
A gente produz milho, feijão, hortaliças e frutas. E só não plantamos mais porque a gente não tem muito espaço, mas com um pequeno espaço a gente planta um pouquinho de tudo”, relata a quilombola.
Nascido do trabalho dos negros que buscavam a liberdade fugindo das senzalas, o artesanato quilombola se destaca pelo uso de vários recursos naturais para a confecção de objetos e instrumentos de trabalho. Alguns desses materiais são a madeira, a taquara, a palha de milho, a fibra de bananeira, a canela e a piaçava.